O TEATRO DE VARIEDADES PÓS MODERNO E PÓS DRAMÁTICO DA CPI DA COVID

O TEATRO DE VARIEDADES PÓS MODERNO E PÓS DRAMÁTICO DA CPI DA COVID COM GRITOS DE BRAVO E APLAUSOS ACALORADOS DA GRANDE MÍDIA E DOS DESCOLADINHOS DELL’ARTE: OU CORTE OS PULSOS DE ÓDIO OU RIA DE NERVOSO MESMO.

 

Quiçá num ataque inconsciente de masoquismo eis que ontem eu me dispus a assistir a uma sessão da CPI da cloroquina, não, da CPI da médica cantora, pera, da CPI do gabinete das sombras… Não, não, mas que confusão, da CPI da pandemia!

CPI não significa Comissão Parlamentar de Inquérito? Não é uma comissão de investigação? Por favor, se eu estiver errada, me corrijam, mas será que é realmente uma investigação que acontece nesta CPI da pandemia? Trata-se de uma investigação profunda, honesta, séria, por parte de senadores que se propõem a averiguar abusos supostamente cometidos não só pelo governo federal, mas também por estados e prefeituras?

Tentando não me deixar levar neste momento por comentários e reportagens sobre a criação e os desdobramentos desta comissão, me dispus a comprar um ingresso caro e me sentar na cadeira da plateia, eu que não sou jornalista, nem comentarista, nem comunicadora profissional, mas tenho carteirinha de brasileira patriota, que se interessa pelos rumos de seu país, que quer estar presente, que quer saber o que é preciso saber, que quer participar e expressar sua opinião, que quer comunicar e debater.

 

Pois muito bem, assim que o pano abriu e cada um dos personagens começou a falar e gesticular, logo percebi que aquilo que se apresentava a todos os brasileiros era um simulacro. Conheço um pouco desta arte tão especial, a arte do ator. Como estudiosa do teatro, venho estudando e praticando esta arte desde os idos de 1995 e então não foi difícil perceber a flagrante canastrice de alguns atores, que almejam a glória de protagonizarem uma cena naturalista, um drama burguês muito bem ensaiado e sentido. Renan, Omar e Randolfe tentavam a muito custo- ou talvez nem tanto assim, já que têm uma claque cativa entre a elite cultural dominante- parecerem senadores da república trabalhando a sério pelo bem do Brasil e dos pagadores de impostos. O seu patetismo não é drama sério, tampouco é marcado pelo frescor, a autenticidade ou o espírito crítico do cômico.

Contrapondo os protagonistas canastrões, os deputados Eduardo Girão, Ciro Nogueira e Marcos Rogério, tentam dar alguma veracidade à novela mexicana, solicitando que fosse pautado um requerimento para que o ex-secretário do Consórcio Nordeste, Carlos Eduardo Gabas, depusesse na CPI, porém por 6 votos a 4 este requerimento foi indeferido pelo G7, grupo dos três patetas: Omar, Renan e Randolfe.

Nesta sessão conduzida pelos ilustres palhaços, médicas com anos de carreira e pesquisa consolidada, são interrogadas como criminosas no tribunal do Renan, que mete o pau e manda calar o bico com os outros seis: -“É SIM OU NÃO! É SIM OU NÃO!” diz Otto, o senador ortopedista. E Omar se irrita porque o empresário Carlos Wizard Martins, apontado como… “macacos me mordam!” membro de um suposto “gabinete paralelo” de aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia, estava viajando e pediu para depor remotamente: -Manda prender! Condução coercitiva, quebra aí logo os sigilos telefônicos, telemáticos, fiscais e bancários, onde já se viu se encontrar para aconselhar um presidente! E Randolfe emenda: -O senhor Carlos Wizard Martins seria um dos membros mais influentes e um dos maiores financiadores de medicações, sem eficácia comprovada, para a covid! Este gabinete maligno fazia campanha contra vacinas e apoiava “teorias” como a da imunidade de rebanho! (VAI DESCENDO DO URDIMENTO, NUMA ILUMINAÇÃO GLORIOSA, O FANTASMA DO PAI DE HAMLET, EU SEI QUE NÃO TEM NADA A VER, MAS ISSO É TEATRO PÓS DRAMÁTICO; OUVE-SE TAMBÉM O ADÁGIO PARA CORDAS DE SAMUEL BARBER… MAS O ESPECTADOR TAMBÉM PODE OPTAR POR LER  ESTUDOS, PROTOCOLOS E ENTREVISTAS COM MÉDICOS, QUE ESTÃO NESTE LINK E NOS VÍDEOS A SEGUIR:

Mas e o Gabas do Consórcio Nordeste, foi ou não foi chamado pelos heróis da CPI da pandemia?

GABAS E O CONSÓRCIO NORDESTE

Carlos Gabas, o tal secretário-executivo do Consórcio Nordeste, para quem não conhece, já foi ministro e motoqueiro de Dilma Roussef, vejam só que interessante coincidência…

O depoimento de Gabas não seria nem pautado pela comissão. É que o senador Humberto Costa do PT/PE não queria não, sabe? Omar não pautou o requerimento, mas disse que ia pautar, mas aí não tinha pautado ainda não, porque o senador Humberto Costa quis barrar: “Acho melhor a gente pedir mais informações ao seu Carlos Gabas…” disse Humberto Costa, o Drácula da lista da Odebrecht, dando uma piscadinha para Omar, Randolfe e Renan. Filme B é assim mesmo, essa coisa adoravelmente trash, com aquele cenário pintado e aquela gosma que bate na tela e vai escorregando…

          Mas o que justificaria a votação deste requerimento? Segundo o senador Eduardo Girão, o pentelho que quer saber quem roubou e quem não roubou, o requerimento se justificaria porque houve uma compra pelo Consórcio Nordeste de 300 ventiladores clínicos de UTI da empresa Hempcare (importadora de cannabis medicinal), em valor aproximado de R$ 48 milhões, pagos antecipadamente. Os ventiladores seriam distribuídos para todos os estados da região, mas nunca foram entregues, segundo o senador.

          Mas Drácula disse que não tinha nada a ver pautar o requerimento porque a CPI só vai investigar as verbas federais e a negociação do Gabas com a empresa de medicamentos à base de maconha, segundo o mesmo Drácula e a galerinha do G7, foi feita com recursos dos governos estaduais. Girão então mostrou documentos de que a negociata do Gabas com a Hempcare foi feita com verba federal. Que cara chato, que cara mala…

O senador apresentou nota técnica da Controladoria Geral da União na Bahia, em parceria com o Ministério Público do Estado da Bahia que aponta diversos indícios de irregularidades nessa aquisição: contrato eivado de vícios para respaldar a compra milionária dos respiradores pulmonares, falta de zelo na escolha da contratada para o fornecimento dos equipamentos e não foi identificado no portal de transparência ou disponibilizadas informações referentes à execução de verbas pelo Consórcio Nordeste.

Mas e a canastrice com gosma na tela e cenário de aquarela tem vergonha na cara? Enquanto o senador Girão mostra provas documentais, o presidente Omar Aziz interrompe a sua fala num tom baixinho, bonzinho, tranquilinho, sabe? Dizendo que vai pautar, que não pautou ainda não… que Humberto tinha mandado pedir documento para o Gabas, que o documento tava chegando… Uma malemolência, uma dormência, uma leseira…

-Girão: A empresa de Gabas é claramente uma empresa de fachada!

-Drácula: Isso é uma irresponsabilidade da sua parte, senador!

E eu, rindo de nervoso com este momento eivado de sensibilidades e boas intenções, de pessoas virtuosas que não têm nenhum processo na justiça porque é só coisa da nossa cabeça de população brasileira que inventa de não querer ser espoliada pelo estamento burocrático!

-Girão: Mas senadores, reparem na nota técnica da Controladoria Geral da União… Esta compra foi alvo da Operação Ragnarok, da Polícia Civil da Bahia – custou mais de 48 milhões de reais ao erário, pagos antecipadamente, e os equipamentos nunca foram entregues, Vossa Excelência!

-Omar: Que nota técnica, meu amigo, nada a ver! Nem conheço esse Gabas. Assim, Girão, a gente vai de jegue com esse blá, blá, blá de Vossa Excelência…

-Girão: Senador, Vossa Excelência parece que não está interessado no requerimento…

-Omar: Isso não é justo, senador Girão. Gabas será muito bem-vindo para sentar nesta cadeira como depoente. Eu não tenho lado não senhor, mas veja bem, o pessoal do governo vem aqui e desmente que era tratamento precoce e diz que era tratamento inicial… Isso não é direito, isso é crime! Olha a diferença! Quem não deve, não teme! Vocês viram que o ministro da saúde estava sem máscara? Crime de genocídio! Cadê a médica cantora gostosa, adoro quando ela diz: -“Seu negacionista! Seu terraplanista!”

-Girão: Mas e o Gabas, Vossa Excelência? Contrato de 48 milhões comprados com verba federal! Os respiradores nunca chegaram à população, Vossa Excelência!

-Omar: Nunca ouvi falar neste senhor. Ô esse menino, Humberto, cadê o documento que Gabas ficou de mandar…

Girão: O senhor não vai votar o requerimento para o depoimento do Carlos Gabas, sr. Presidente? Eu insisto.

-Omar: Este cabra é custoso mesmo! Menino eu vou votar! Se aperreia não! Diz aí Randolfe: Qual o seu voto?

-Randolfe: Gabas, não venha não! Gostaram da minha voz de contratenor?

-Omar: Renanzinho, meu filho…

-Renan: Venha não, Gabas!

-Omar: Tassinho? Ottinho?

-Tasso Jeressaiti: Não!

– Otto Alencar: De jeito nenhum!

-Omar: Jader?

-Jader Barbalho: Não senhor, venha não, que eu pego a peixeira!

-Omar: Humberto?

-Drácula: Gabas? Motoqueiro de Dilma? Um santo, venha não!

 

 

EPÍLOGO

A autora vai finalizar a peça agora porque seu estômago é muito delicado e embrulhou. Mas como esta peça é pós moderna e pós dramática, está tudo bem acabar assim, in progress, até porque amanhã tem mais sessão, mas não se esqueçam que o relatório já está pronto!

Se quiserem corpos nus e fumacinha, eu posso providenciar, mas por favor não me peçam para dizer como será o figurino, o adereço e a maquiagem dos personagens do G7, porque meus sentimentos plásticos e visuais são abissais, assombrados, dantescos, porque meu riso é de nervoso e minha carne é fraca. E o resultado não será de paisagem pastoril ou de marina impressionista. Minha mente delira, meu coração acelera, minha alma canta junto daquele coro de troçados, empulhados, violados, agredidos das formas mais vis por personagens escolhidos pelo voto para zelarem pela nação e promoverem o bem comum. Mas o que fazem? O que fazem deixa só um gosto amargo na gente. Mas eu me rio, o riso é o meu açoite, o meu chicote bem dado que purga e descarna o que não é verdadeiro, é arremedo tosco e grosseiro. Eu me rio porque não vou lhes dar o gosto do meu choro, não vou me acovardar, não vou largar o osso, porque sei que não estou sozinha.

FIM

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